Você já sentiu como se todo mundo tivesse mais a agradecer do que você? Cheque o seu feed o Facebook ou do Instagram: seus amigos parecem jantar mais em restaurantes chiques, tirar mais férias exóticas e ter filhos mais bem-sucedidos. Eles têm até bichos de estimação mais fofos!

Pode ter certeza de que isso é uma ilusão, que está enraizada em uma propriedade das relações sociais conhecida como o paradoxo da amizade. Inicialmente formulado pelo sociólogo Scott Feld, o paradoxo afirma que “seus amigos são, em média, mais populares do que você”. Essa propriedade se combina a outras peculiaridades das interações sociais para criar uma ilusão.

O que o paradoxo significa é: se eu te perguntasse quem são os seus amigos e então os conhecesse, de forma geral eu consideraria que eles têm mais conexões sociais do que você. É claro, se você é uma pessoa extremamente sociável, o paradoxo não se aplicará a você. Mas para a maioria de nós, é provável que ele se aplique.

Embora esse paradoxo possa ocorrer em qualquer relação social, isso acontece de forma desenfreada online. Um estudo concluiu que 98% dos usuários do Twitter seguem contas que têm mais seguidores do que eles.

Embora soe estranho, o paradoxo da amizade tem uma explicação matemática simples. O círculo pessoal de cada pessoa é diferente. A maioria de nós tem alguns amigos, e aí existem as pessoas bem conectadas, como David Rockefeller, antigo CEO do Chase Manhattan Bank, cuja agenda inclui mais de 100 mil pessoas.

Nas redes sociais, celebridades como Justin Bieber podem ter mais de 100 milhões de seguidores. É esse pequeno grupo de pessoas superconectadas—pessoas com muitos amigos, que são parte do seu círculo social—que aumentam a popularidade média dos seus amigos.

Esse é o truque matemático no centro do paradoxo da amizade. A popularidade extraordinária da pessoas como Justin Bieber não só desvirtua a popularidade média de amigos para qualquer um que esteja conectado a eles, mas mesmo que pessoas como ele sejam raras, elas também aparecem em um número extraordinário de círculos sociais.

E o paradoxo da amizade não é apenas uma mera curiosidade matemática. Ele tem aplicações úteis em prever tendências e monitorar doenças. Pesquisadores o utilizaram para prever temas em alta no Twitter semanas antes de eles acontecerem e para identificar surtos de gripe em suas fases iniciais e elaborar estratégias eficientes para gerenciar a doença.

Funciona assim: imagine, por exemplo, que você chega a uma vila africana com apenas cinco doses de vacina contra o Ebola. A melhor estratégia não é vacinar as primeiras cinco pessoas que você encontrar, mas sim perguntar a essas pessoa quem são os seus amigos e vacinar esses cinco amigos. Se você fizer isso, é mais provável que você escolha pessoas que têm círculos sociais mais amplos e assim poderiam infectar mais pessoas se ficassem doentes. Vacinar os amigos seria mais eficiente para conter a disseminação do Ebola do que imunizar pessoas aleatórias que podem estar na periferia de um círculo social e não conectadas a muitas outras pessoas.

Tem mais. Notavelmente, uma versão mais forte do paradoxo da amizade se aplica a muitas pessoas. A maior parte dos seus amigos têm mais amigos do que você. Pense nisso. Não estou mais falando sobre médias, onde um amigo excepcionalmente popular poderia desvirtuar a média de popularidade dos seus amigos.

O que isso significa é que a maioria dos seus amigos é mais bem conectada socialmente do que você. Vá em frente e experimente. Clique no nome de cada um dos seus amigos no Twitter e veja quantos seguidores eles têm e quantas contas eles seguem. Estou disposta a apostar que os números são maiores do que os seus.

Ainda mais estranho, esse paradoxo se aplica não só à popularidade, mas também a outras características, como o entusiasmo ao usar redes sociais, jantares em bons restaurantes, ou tirar férias em lugares exóticos. Como um exemplo concreto, veja com que frequência alguém posta atualizações no Twitter. É verdade que a maioria das pessoas que você segue posta mais atualizações do que você. Além disso, a maioria das pessoas que você segue recebe mais informações novas e diversas do que você. E a maioria das pessoas que você segue recebe mais informações virais que acabam se espalhando no seu feed mais do que você imagina.

Essa versão mais forte do paradoxo da amizade pode levar a uma ilusão de maioria, na qual uma característica que é rara em uma rede de forma geral parece comum em muitos círculos sociais. Imagine que poucas pessoas, no geral, são ruivas, mas ainda assim, para muitas pessoas, parece que a maioria dos seus amigos tem cabelo ruivo. Tudo o que precisamos para disseminar a ilusão de que o cabelo ruivo é comum é que alguns influenciadores superconectados sejam ruivos.

A ilusão da maioria pode explicar por que você pode achar que seus amigos parecem estar fazendo coisas mais empolgantes: pessoas que são mais conectadas socialmente influenciam desproporcionalmente o que vemos e aprendemos nas redes sociais. Isso ajuda a explicar por que adolescentes superestimam a prevalência de bebedeiras em campi de universidades e por que alguns temas parecem ser mais populares no Twitter do que realmente são.

A ilusão da maioria pode distorcer as suas percepções sobre a vida de outros. Pessoas mais bem conectadas também fazem coisas mais notáveis, como jantar em um restaurante premiado ou tirar férias em Bora Bora. Elas também são mais ativas em redes sociais e mais propensas a registrar a vida no Instagram, distorcendo as nossas percepções de quão comuns essas coisas realmente são. Um bom jeito de mitigar essa ilusão é parar de se comparar com amigos e ser grato pelo que você tem.