Começam hoje as inscrições para a edição 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), abertas até o 14 de julho. As provas estão marcadas para os dias 21 e 28 de novembro, nesta que será a segunda edição do Enem desde o início da pandemia de COVID-19. Especialistas avaliam que não haverá grande mudanças no que se refere ao conteúdo e apostam na redução da tensão em relação à última edição, com estudantes agora mais acostumados ao ensino a distância e até mesmo já podendo acessar as aulas presenciais nos cursinhos preparatórios. Lembram, no entanto, que essa adaptação é desigual, principalmente para os pobres. Um calendário mais definido também contribui para uma expectativa melhor, na visão de alunos que enfrentaram as incertezas na versão passada do Enem, realizada este ano depois de adiamentos.

Para se inscrever, os candidatos devem acessar a página do participante e escolher entre fazer a prova impressa ou digital. Este ano, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela realização do Enem, vai oferecer mais de 101 mil inscrições para a versão digital da prova. Apenas alunos que já concluíram o ensino médio ou vão concluir em 2021 podem optar por esse modelo. As provas impressa e digital serão feitas na mesma data e, portanto, terão as mesmas questões e proposta de redação.

Essa é a segunda edição do exame realizada durante a pandemia. “Para este ano, não esperamos grandes mudanças. É fato que todo ano tem algumas pequenas variações. Às vezes uma prova mais fácil, outra mais difícil, mas não é uma mudança drástica. Acreditamos que o Enem não deva ter mudanças estruturais”, avalia o diretor de ensino do Grupo Bernoulli, Rommel Domingos.

Para Domingos, entretanto, parte dos alunos pode enfrentar mais dificuldades devido à preparação de forma remota. “A preparação do aluno foi afetada desde o ano passado, em função da pandemia. Grande parte deles se adaptou bem ao ensino remoto, conseguiu desenvolver e crescer apesar das dificuldades. Está agora se preparando para o Enem e não deve ter perda no seu rendimento. Mas é fato que há um grupo de alunos que não se adaptou e está tendo dificuldade de administrar o seu tempo e estudar. Em particular, os alunos mais pobres, que têm menos espaços em sua residência, não têm bons equipamentos nema internet de qualidade.”

Outro que não acredita em mudança no nível das provas é o diretor da Associação Pré-PUC e UFMG Pré-Vestibular, Richard Thuin. “A maior alteração seria a prova on-line. As duas vão ser no mesmo dia este ano. Quanto ao conteúdo não vejo diferença não.” Ele também destaca que a pandemia dificultou a preparação dos alunos, principalmente os mais carentes.

“Eles tiveram aula on-line, alguns conseguiram acompanhar, outros não. Em função disso, estamos formando muitos alunos no EJA (Educação de Jovens e Adultos). Principalmente alunos de 3° ano que não concluíram (os estudos) na escola pública e estão buscando o curso EJA. Com a pandemia, os pais de alguns alunos perderam o emprego e os filhos precisaram buscar atividades para ajudar no sustento da casa. Com isso, alguns pararam de estudar e resolveram terminar o curso com o EJA, por ser mais rápido. E ele habilita o aluno a fazer as provas do Enem”, explica.

Mas, para Rommel Domingos, existe um fator positivo para a edição deste ano. “A ansiedade é menor. Este ano a pandemia continua. O retorno do pré-vestibular já aconteceu e do colégio ainda não, estamos aguardando. É um retorno muito comedido, muitos alunos ainda continuam em casa. Mas a ansiedade este ano é muito menor que a do ano passado. O ambiente não está tão pesado”, acredita.

Para ele, o fato dos cursinhos já terem retomado as aulas presenciais pode ajudar nesse problema. “Tem a questão do pré-vestibular já ter voltado. Então, vêm para a aula presencial justamente os que precisam mais. O aluno que já está mais adaptado, continua estudando em casa. E o aluno que está sofrendo mais e não conseguiu se adaptar, acaba entrando no rodízio e sendo beneficiado. Foi importantíssima a volta ao presencial, nesse caso.”

Richard Thuin acredita que as aulas on-line exigem um esforço maior dos alunos. “Na aula online, os alunos ficam mais tímidos e não perguntam. As aulas ficam gravadas. O curso remoto precisa de muita dedicação. Com as vídeoaulas, apesar de o aluno ter mais carga de conhecimento e mais tempo, é mais superficial. O aluno não aprende o contexto todo. Esse aluno vai precisar de mais interesse e, alguns estudantes nessa idade têm pouco interesse.” Apesar disso, ele afirma que a aprovação a última edição do Enem não foi afetada. “Em 2020, diversos alunos de escolas públicas continuaram as aulas mesmo a distância e tivemos uma aprovação muito expressiva, de 86%.”

Ana Beatriz Gontijo tem 19 anos e vai fazer o Enem pela segunda vez. Ela se formou em 2020 e pretende estudar medicina. No último Enem, as incertezas sobre o processo a deixaram angustiada. “No início deste ano, foi a primeira vez que fiz (o Enem) valendo, não como treineira. No início, a adaptação às aulas on-line foi muito difícil. E a confusão toda de fazer enquete, disseram que seria uma data, depois foi em outra. Só foi adiando. Isso foi muito angustiante, a gente não tinha nenhum cronograma para seguir e planejar”.

Ela acredita que o impasse sobre a realização do exame pode ter atrapalhado seu desempenho. “Não posso colocar a culpa 100% nisso, mas acho que prejudicou sim. Foi uma prova muito diferente em relação ao conteúdo. Por exemplo, história do Brasil, não caiu praticamente nenhuma questão. E os professores nos prepararam de acordo com as experiências anteriores do Enem.”

A estudante conta que, este ano, a preparação está sendo mais tranquila. “Como a gente já teve a experiência do on-line de 2020, agora está sendo um pouco mais fácil. Já peguei o ritmo, o jeito de estudar em casa. Inclusive, estou no pré-vestibular em que as aulas presenciais já voltaram (no modelo híbrido), mas nem estou indo porque já me acostumei à rotina de estudar em casa.”

Outro ponto positivo, segundo Ana Beatriz, é o exame já ter data definida. No ano passado, a incerteza persistiu até o fim, inclusive com medidas judiciais para suspender o exame nacional. Já Wanderson dos Santos, de 24 anos, vive uma situação diferente. Ele vai tentar o Enem pela terceira vez, sempre estudou em escola pública municipal e terminou o ensino médio em 2015. Também quer estudar medicina, mas não conseguiu se adaptar ao ensino remoto. “Foi uma experiência muito ruim por causa da distração. Na aula presencial, a gente tem um compromisso maior. Na aula on-line não, como ela é gravada, você começa a fazer outras coisas e quando vê está com um monte de matéria acumulada”.